terça-feira, 21 de setembro de 2010

Los Hermanos, Nós, e o Big Brother

democracia
[Do gr. demokratía.]
Substantivo feminino.
1.Governo do povo; soberania popular; democratismo. [Cf. vulgocracia.]
2.Doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade, i. e., dos poderes de decisão e de execução;
  • Democracia autoritária. 1. Ciênc. Pol. Sistema de governo surgido após a 1a Guerra Mundial, em geral anticomunista, firmado na supremacia do poder executivo em relação aos demais poderes.
  • Democracia popular. 1. Ciênc. Pol. Designação comum aos regimes políticos monopartidários dominantes nos países da área socialista. [Cf., nesta acepç., república popular.]
 (Dicionário Aurélio)

 Eu sou uma pessoa democrática, conforme a segunda definição apresentada pelo respeitado dicionário. Entretanto, conforme o próprio dicionário nos clarifica, existem por aí outros regimes que se auto-denominam democráticos, ainda que o poder não esteja distribuído eqüitativamente, ou que seja um regime monopartidário, excluindo assim a liberdade do ato eleitoral.
Se auto-denominar democrático é muito simples, fácil. Como se auto-denominar honesto, inocente, ficha-limpa, ignorante de cercas coisas, etc. A política brasileira não me deixa mentir.

Dois Continentes acima, num certo país, um jornal localizado em Cidad Juarez publicou um editorial no qual pergunta ao narcotráfico mexicano: O que vocês querem que nós publiquemos? Cabeças rolaram (literalmente) por lá, pela simples citação de nomes de alguns chefões do tráfico de entorpecentes. 

Enquanto isso, ao sudoeste do país, a distinta, isentíssima, ilibada, honrada, senhora de família e presidente da Argentina Kristina Kirchner está sedenta por sangue: quer a prisão dos donos dos jornais Clarín e La Nación, pelo assassinato de um homem que morreu num acidente de avião (!). Já que não consegue fechar as portas dos jornais, considerando os fatos do México, e a despeito da diferença de periculosidade existente entre narcotráfico e corrupção, talvez a presidente dotada de tanta hombredad também tenha se achado em condições de ameaçar alguém, ainda que não inspire o mesmo medo e não possa sair por aí promovendo matança de jornalistas.
Ao mesmo tempo, na terra de Macunaíma, o sr. Luiz Inácio quase baba de fúria ao se referir aos jornais que insistem em fazer diferente da Carta Capital, e dão algum espaço às recorrentes denúncias de corrupção, fraude e má administração pública ocorridas embaixo do excelentíssimo nariz presidencial. Não sei bem que os Kirchners fizeram escola com Luiz Inácio ou se foi o contrário. O curioso é o brasileiro continuar se achando tão diferente e melhor que o argentino.

George Orwell, crítico de diversos regimes e escritor de grande talento, descreve em sua obra 1984 um regime opressor, sustentado pela propaganda estatal, e balisado pelo Ministério da Verdade - o único órgão responsável pelo trato e divulgação de informações do país fictício. Tudo convergia para a perpetuação do poder do Grande Irmão.

Ainda que escrito de forma crítica, 1984 retrata o desejo íntimo de todo falso democrata que ascende ao poder. José Dirceu, num ato falho, declarou em uma palestra que "O problema do Brasil é o excesso da liberdade de imprensa". Estrago feito, disse que foi mal interpretado. 

Entre Kirchners, Silvas, Chávez e outros, percebe-se que, na falta de respaldo público para agir como o narcotráfico mexicano, que simplesmente extermina quem ousa publicar o inconveniente, na América do Sul prega-se a distorção visando o descrédito: criam-se termos como factóide, golpismo midiático, PiG, denuncismo, tapetão...

A América do Sul se estagnou em 1984, governada por camaradas, num regime de camaradagens.
Estamos a caminho da Democracia Popular... e eu me recuso a seguir por esse caminho.

Um comentário:

  1. Minha cara Lana, você é testemunha das coisas que ando lendo esses dias. Chegam ao cúmulo de falar em ditadura de esquerda legitimada pela democrática vontade popular. Outros conceituam democracia como a subserviência da minoria à vontade da maioria, e por aí vai. Me sinto mesmo preso num livro de Orwell, não sei se Animal Farm ou 1984.

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