terça-feira, 31 de agosto de 2010

Votos: o de Protesto e o Perdido

As pessoas falam muito em "voto de protesto".  Sempre tem aquele amigo que, impaciente com as discussões sobre política, diz que irá votar em "um Enéias da vida" ou irá votar nulo, tudo para "protestar". Tal comportamento, endêmico o suficiente para motivar candidaturas questionáveis, como as das "mulheres-fruta", entre outros, apenas evidencia a falta de consciência, cara-de-pau e irresponsabilidade de inúmeros brasileiros.

O chamado "voto de protesto" beira o ridículo,  sendo praticado por pessoas que por preguiça, desleixo ou desinteresse, e motivados por uma situação material confortável, se dão ao luxo de boicotar a vida dos pobres e miseráveis desse país desigual.

Todo voto deve ser um "voto de protesto". De fato e direito, todo voto é um protesto. Um voto pode ser um manifesto de apoio ou repúdio à situação vigente. O branco, o nulo, ou o voto no "Zé da Esquina" não são votos de protesto, e sim a maneira mais prática para um indivíduo se esquivar de suas responsabilidades para com o coletivo. Assim como aquele que vota "em quem está ganhando", para "não perder o voto".

Perder o voto é ignorar a conjuntura social e política do país por 4 anos, e depois formar sua opinião baseando-se em pesquisas e propaganda eleitoral. Perder o voto é anular sua oportunidade de manifestar-se favorável a novas ou às mesmas idéias. É ignorar quem é o verdadeiro "dono da caneta", apenas por preguiça de pensar por si só, pela acomodação, pelo trabalho que traria alguma mudança.

"Voto de Protesto" é como apagar as luzes da casa durante "A Hora do Planeta": é inventar um símbolo para a preguiça monumental dos execráveis demagogos inertes, e um alívio para a consciência, para que, quando indagados sobre seu posicionamento diante de questões graves, tentar se justificar dizendo: "ah, mas eu protestei contra o sistema... no dia da eleição eu votei nulo", como se o país fosse construído apenas em dois dias de outubro dos anos pares.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As Privatizações

Eu e a política - Capítulo 2

Há um fantasma de natais passados que assombra os brasileiros comuns: as privatizações. Como funcionária do Banco do Brasil, conheço trocentos que sempre que tem oportunidade vem falar dos perigos tucanos, pois todos eles querem privatizar o BB. Dizem por aí que os "privatistas" sucatearam os orgãos públicos e os venderam a preço de banana. Eis o senso comum.

Como disse no Capítulo 1, brasileiro é um animal de memória muito fraca (às vezes acho que a culpa pode ser do cloro que colocam em nossa água, pois é um problema generalizado): escândalo após escândalo, e até depois de um impeachment, adoram "famílias tradicionais" como Roriz, Magalhães, Maluf, Collor de Mello, Sarney, e por aí a lista segue, enorme. Pode ser masoquismo também: o que seria de nosso "povo sofrido" sem as mazelas infrigidas pela omissão de nossos caros políticos?

Existem muitas falácias sobre os processos de privatização do Brasil. Distantes quase 16 anos do instante em que Fernando Henrique subiu pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto, é relativamente fácil reinventar os fatos, e principalmente descontextualizar a história.

A versão sobre as privatizações brasileiras contadas hoje (principalmente sobre a Vale e as empresas de telecomunicações) são histórias levemente inspiradas em fatos reais, e alimentadas pelo imaginário de uma população que tem muito a ver com os "hermanos" do país ao lado: tem um ego desproporcional, mania de grandeza e o hábito de enxergar o mundo sob a lente turva das novelas das oito. O Brasil de 2010 não é o mesmo Brasil de 1994, e é conversa de mente reduta dizer que o Brasil de hoje é o "Brasil de Lula", é coisa de gente sem memória.

 Brasileiros, por favor, acordem. Vocês, compatriotas do sr. Juscelino, que construiu  essa vergonha pública de hoje, chamada Brasília, que lhes prometeu "50 anos em 5", com contas a pagar por mais 500 anos. Vocês, nascidos no país de João Goulart, derrubado por militares. Vocês, meus caros, vocês viram o Estado ser sucateado, saqueado e loteado por aqueles que se diziam patriotas, durante 20 anos. Vocês viram Sarney e Collor, então, a pergunta é: de qual parte exatamente vocês não se lembram?

O principal argumento contra as privatizações é um suposto sucateamento feito por FHC, para justificar as privatizações. O parágrafo acima mostra a obviedade: 20 anos de militares, 4 anos de Sarney, 2 anos de Collor, e dizem que Itamar em 2 anos, e FHC em 4, devastaram as empresas públicas para vendê-las? Então, entende-se que foi entregue a eles um Estado perfeitamente funcional, de contas sanadas, com empresas funcionando, salários razoáveis a seus servidores.

Funcionários públicos ganhando fortuna para não trabalhar, loteamento político de estatais - com consequente má administração e sucateamento -, desvio de verbas para modernização, direcionamento político de aquisições por empresas estatais, fundos de pensão, e etc, tudo isso foi FHC quem inventou, mirabolando a privatização do Brasil! O lobby governamental, que enriqueceu muitos políticos e servidores públicos, entre eles o pai do homem mais rico desse país, também foi inventado por FHC.

Quando finalmente concordam que o Brasil foi entregue ao ex-presidente sucateado, vem com a ladainha de que "tudo bem, poderia estar ruim, mas foi vendido a preço de banana". Então, eu convido qualquer um a arriscar seu dinheiro adquirindo uma estatal da Venezuela, Peru, Argentina ou Colômbia hoje. Eu convido qualquer um que acredite que as empresas brasileiras foram mal vendidas a colocar alguns milhões de reais em uma empresa de infra-estrutura estatal de qualquer um desses países. Aí entra o péssimo hábito de comer sardinha e arrotar caviar. Por que as estatais brasileiras de 1994 eram melhores que as venezuelanas de hoje? Só porque eram... brasileiras? Por preços diferentes dos negociados, eu teria colocado meu dinheiro na Alemanha.

É necessário compreender que antes de sermos patriotas, devemos ser realistas. É hora de abandonar o relativismo, a política da vantagem, a memória fraca, e o raciocínio imediatista. Nossa economia sólida não existia na época das privatizações. Aliás, ela foi construída através das privatizações. Nosso país era, 16 anos atrás, uma caixinha de surpresas, e uma bomba potencial. A credibilidade, a liquidez e a estabilidade foram construídas a duras penas, com sacrifícios, e eliminando fardos que eram pesados demais para que um Estado deixando a situação de abandono carregasse.

Estou aqui, escrevendo através de uma conexão banda larga ADSL, assinada por módicos $100,00 por mês, graças ao sr. Fernando Henrique Cardoso. Não sinto falta de meu modem US Robotics de 14400 kbps, ou dos telefones que custavam mais que um automóvel. E o mérito, sinto em informar-lhes, é do Professor Fernando Henrique Cardoso.

sábado, 21 de agosto de 2010

A Campanha e os Eleitores

Eu e a Política - Capítulo 1
(Post nascido de um diálogo com a Dai sobre esse blog)

O que mata nos militantes políticos em geral é a falta de sobriedade:
Vê-se em dúzias de blogs por aí aquele tom deslumbrado, ufanista, chato, pior que os romances mela-cueca de novela mexicana: o militante trata o político "bola da vez" como se fosse um semi-deus, seus marqueteiros como arcanjos, e por aí vai.


Eu não assisti a propaganda eleitoral. Pode parecer coisa de gente elitista e de mente pequena, mas sinceramente, horário eleitoral, via de regra, é coisa pra fazer a cabeça de ingênuo desinformado. É para quem não lê os jornais todos os dias ao longo de anos, nem acompanha o desenrolar político do país entre os meses de outubro dos anos pares, visando inclusive consolidar uma opinião de verdade sobre quem governa ou não essa bodega.

Eu imagino o tom de "apelação" adotado pela maioria absoluta dos candidatos. Ou é a tradicional previsibilidade da época, ou sou eu adquirindo poderes especiais para adivinhar o que acontece dentro da caixinha preta que me recuso a ligar para outra coisa que não ver meus filmes ou jogar video game. Além do mais, minha antipatia pelo partido de situação é pública e notória.


Minha bronca com o PT é pela cara lavada. Como disse Jabor no texto "Os Grandes Arrepios": Lula se apropriou dos feitos de FHC. Numa espécie de mitomania esquizofrênica, e no melhor estilo de Joseph Goebbels, Lula repetiu sua versão mentirosa e maquiada dos fatos por sete anos, até que o povão a visse como verdade.

Nesse caso, não diferente de tantos outros nos quais os Maluf's da vida se elegem e reelegem (tendo ainda a capacidade de vir a público dizer "não há ficha no Brasil mais limpa que a minha"), conta-se muito com a memória curta do brasileiro - que mandou em 2006 ao Senado Federal o mesmo Fernando Collor de Mello que foi enxotado da Presidência da República em 1992;  que elege famílias inteiras de Sarneys, Rorizes e Magalhães, ou quando não elege, mantém-se passivo quando um desses usurpa o poder (como fez a Governadora Roseane recentemente).

Se não se lembram de quem é Fernando Collor, não me admira que também não se lembrem do outro Fernando. O que me causa estranheza é justamente a rejeição ao Fernando errado.

Se houvesse essa atenção à história, como o senhor do biscoito fino (huhu) andou declarando, certamente o presente seria diferente. Não me oponho à luta armada contra a ditadura, são os métodos apenas que me deixam apreensiva. Creio que é possível o uso da força, em alguns casos, até mesmo necessário. O que reprovo é a falta de discernimento. O mesmo discernimento que faltou aos católicos na lamentável "Marcha da Família com Deus para a Liberdade", faltou aos socialistas radicais em toda a sua existência.

Do longo trajeto da militância à rampa do Palácio do Planalto, não foi só a sobriedade etílica que faltou ao Lula e seus caporegimes. Faltou a sobriedade ética. Faltou ser razoável. O pensamento de que o Presidente da República pode fazer e dizer tudo o que quiser deveria ter morrido junto do regime militar, por se tratar de um conceito de insensatez gigantesca, e característico de um raciocínio ditatorial. Infelizmente, não é o único ponto no qual Luiz Inácio se aproxima daquilo que dizia combater.

A história mostra que a esquerda hoje sentada na cadeira mais alta de Brasília não é muito diferente da esquerda de Pyongyang ou Havana, nas cadeiras mais altas de países tão "república" no nome quanto o Brasil. Aqui havia a oposição ao governo militar, mas diante da oportunidade de uma transição para a democracia, deixaram de apoiar a única possibilidade de libertação porque o candidato não seria o deles.

O tempo mostra que a oposição ferrenha a Sarney, Collor, Calheiros, e tantos outros, se deu apenas porque os "picaretas com anel de doutor" não reservaram ao metalúrgico uma cadeira também. Com uma pequena bola de cristal, todos os poderosos de décadas atrás teriam dissolvido a esquerda brasileira oferecendo a Lula, José (que também virou Zé) Dirceu, Palocci, e tantos outros, algumas cadeiras em estatais, na câmara e no senado, e lhes antecipando o mensalão.

Vivemos em um país patético, que faz juz a todos os ditados que cria: "Todo político rouba", "Quem nunca comeu melado quando come se lambuza", "Todo mundo tem um preço", "O poder corrompe o homem", e assim por diante.

É lamentável.
Quando me deparo com esses fanáticos petistas, que são tão cegos e irredutíveis quanto os evangélicos neo-pentecostais e os defensores de linux, eu perco a fé na humanidade.

São todos casos perdidos, e só resta aos mais razoáveis lamentar pelos errantes serem numerosos o suficiente para manter nosso reino de enganados na lama da corrupção e ignorância.

Enquanto isso o "país do futuro", como sempre, vai ficando pra amanhã.